21/04/2007


Contra o fluxo




Entro na contramão

faróis me cegam a vista

buzinas me calam a boca
Lírio da paz



Folhas traçadas,
quase esculpidas
de verde cor
esperança;
renascem,
crescem
tal qual buquê
de verdes mantos;
Solitária flor
em concha,
branca flor
altaneira,
derrama
teu pólen
pelo mundo,
espalha

gotículas de paz.

13/04/2007

Mares



Imensos mares,
enigmáticas águas
imaginárias,
melindrosas
correntes
traiçoeiras,

Mornas ondas,
gélidas marolas,
frios habitantes
colorem e piscam
escuro ambiente
intocável
em profundezas
submersas;

Salobra claridade,
migrações,
movimentos,
um vai-e-vem,
um vem-e-vai
de sentimentos.
Curtas na tela

Um ipê amarelo
rubro ficou ao ouvir
gracejos dos pássaros

O dia chegou feliz
o sol abraçou o mundo
em seus raios diamantes

Àrvores choraram
e suas lágrimas secas
forraram o chão

O frio vem cortante
encolhendo as plantações
dos meus girassóis

Vem a tempestade
os raios rasgam o céu
luz pinga na mata

As flores sairam
dos seus casulos em cores
e a manhã sorriu
Passa o tempo


O tempo
pinga
e pinga
numa
constância
irritante
arranhando
diamantes
nas nervuras
das mentes
já alquebradas
Horas
caem
minutos
escorregam
segundos
voam
pelo buraco
invertido
que tenta
barrar-lhes
a passagem
em vão
E o tempo
esbarra
se aperta
e passa
em pingo
que martela e
pinga
pinga
pinga

10/04/2007

Renovação




Risos caíram
e se foram
com o vento
outonal

A natureza
estremeceu
secou
e em conchas
se fechou

Aguardou
paciente
as estações
vindouras

Renovação
adormecida

Vício



Embriaguei-me

na maresia

de seus olhos

cor do mar

08/04/2007

Grávida



Uma vontade
cresce dentro
de mim;
Antes pequena,
mínima até,
só agora percebo
que já estou
a explodir;

Não mais
me controlo,
retinas
dilatam,
veias
desatam,
palavras vêm
à boca,

e salivo,
e cuspo
dizeres
sem nexo,
sem dó,
sem remorso,

e grito
Sou parteira de mim.

07/04/2007

Caminhos



Nas andanças
dessas vidas
carrego
meus ossos,
meus restos,
minhas roupas
carcomidas
pelas traças;

De meus espelhos
partidos
levo os cacos
espalhados
por sobre
meu peito
passivo;

Inspiro
os ares
das saudades
esquecidas
nas paisagens
chamuscadas;

Sigo as àguas,
cruzo o nada,
mudo o curso;

Faço um trato
com o destino
e me lanço
nessa estrada.
Canção para Rodrigo


Numa explosão púrpura

divisei-te junto a mim

Vieste ligeiro
calmamente
de carona em
uma estrela alada

Foi-me tocando
as entranhas
em doces
canções de roda

E do quase nada
fiz-me muito
aspirando-te
querendo-te
fundindo-me
a ti

Vesti-me de lua
e num crescente
insistente
fiz-me cheia
embriagada já
por teu cheiro
teus trejeitos
imaginados

O amor transbordou
inteiro, e te recebi

nos braços
despido de tudo
vestido de vida

Perturbada alma

Insana mente
mundana
que cria, pensa,
repensa, enlouquece;
Lenta mente
de rapina
faz de mim
marionete
em suas garras
afiadas;
Sôfrega mente
demente
rodopia,
e mais um dia
me constato
perturbada.

Insônia



Deito-me

num colchão

de ondas;

cubro-me

com um cobertor

de espumas;

viro-me;

o sono não vem;

conto peixinhos

Ventos


Os ventos ferinos, andinos,

sussurram zombeteiros,

passam apressados,

destelham telhados,

assombram infâncias,

surrupiam lembranças

de tempos passados;

Dançam e dançam

nas soleiras das portas

nas árvores frondosas

nas porteiras abertas

e após os destroços,

das saudades roubadas

simplesmente vão saindo

sussurrando, sussurrando...

05/04/2007

Livre


Desfiz nós,
Soltei amarras,
Desprendi laços,
Abri asas,
Voei.